Janela indiscreta, Luísa ou Janela, indiscreta Luísa
Por norma atendo o telemóvel quando este se põe feito histérico reclamando a minha decisão em cima da mesinha de cabeceira. Nesta manhã atendi com o mesmo aborrecimento com que o atendo todas as manhãs em que sou arrancada dos sonhos por tal equipamento. Definitivamente odeio telemóveis pela manhã, mesmo que a manhã já vá no meio-dia…
Em silêncio espero, aguarda-me um “Olá” cheio de frescura, criancice e mimo de adulto. Um Oi sai-me a custo, mas como resposta à saudação informal anterior. Quem é? – A voz soa sem curiosidade alguma, surge tão enrolada como a roupa da cama.
Quem é?! Sou eu.
Ah! – Única interjeição disponível aquela hora da manhã e, suspeitando quem era do outro lado, a única possível. Juro que não te entendo, não, definitivamente não te entendo, depois da discussão, do consentires que era te indiferente eu afastar-me, do bater a porta sem volver o olhar, do deixares-me partir sem intercederes, de… de… de… tanta coisa. Tinha-te feito o funeral, enterrado e já estava a seguir a minha vida para agora, num telefonema, a balançares de novo. Nunca pensei em te ter de volta no meu planeta.
– Vamos combinar para sábado?
– ‘tás a gozar. Só pode. Depois de tudo…
– O quê? Nunca ficaria zangado contigo.
(…) não quero recordar. Um dia li qualquer coisa como: só alguém que já se curou se pode dar ao luxo de recordar.
– Acredito-te na ombreira da porta do meu apartamento, já não é a caminho, já não é no quase a chegar, mas na ombreira da porta. Até lá não quero saber se quer que existes.
E não existes, qual foi a parte em que eu pensei que estava acordada?
FR
A água vai regressar ao mar, e eu poderei voltar à praia sem recordar que um dia existiu um tsunami.
1 Comments:
oh pé no ar??? qual foi a parte da tua (nossa) vida em que ainda não percebeste que é sempre tudo feito a sonhar?? por isso é q detestas(detestamos) "despertadores"... beijinho grande da princesinha b612
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